A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo observadores dos pássaros
enquanto os pássaros não
acabarem. Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública,
um senhor míope atendia devagar
ao balcão, eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça como uma co-
roa de espinhos: estão todos
a ver onde o autor quer chegar?
Manuel António Pina
de AINDA NÃO É O FIM NEM O PRINCÍPIO DO MUNDO CALMA É APENAS UM POUCO TARDE, 2.ª edição, a erva daninha, Novembro de 1982
2 comentários:
Que os doutos doutores me perdoem, mas me interessa este paralelo entre poesia e vida, sempre.
Abraços,
aldemar
p.s. adorei o blog. entrei no barco.
Caro Aldemar Norek,
O agradecimento pelos comentários que deixou aos poemas neste blogue, creio que os autores dos poemas me não levarão a mal se for eu a fazê-lo.
A mim cabe-me particularmente agradecer a sua visita, o ter gostado do blogue, e seja sempre bem-vindo.
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